O sapo e o príncipe

O jornalista Paulo Markun lançou em 2004 a obra “O Sapo e o Príncipe” em alusão às ascensões à presidência da república dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (FHC ou Farol de Alexandria) e Luiz Inácio Lula da Silva (Nunca Dantes ou “O Cara”).

Fernando Henrique Cardoso é o príncipe, por sua suposta robustez intelectual devido à sua formação na famigerada Sorbonne em sociologia, e Lula é o sapo, por sua formação pouco adequada aos moldes de todos que ocuparam a cadeira da principal mesa do Palácio da Alvorada, tendo como profissão a função de torneiro mecânico.
Muitos se alegraram com a obra de Mankun e adoram até hoje chamar o ex-presidente Lula de sapo. Porém, quem mais sofreu com tal título foi FHC, que aparentando uma espécie de Complexo de Estocolmo, não conseguiu se desvincular no título.
O grande problema é que o sapo foi beijado pela princesa e hoje também é príncipe, e deste modo o príncipe mais velho sente-se obrigado a disputar a hegemonia do principado com seu contemporâneo.
Brincadeira a parte, é mais ou menos deste modo que vejo a atual posição de Fernando Henrique Cardoso, do príncipe que perdeu sua autenticidade e tem de disputar espaço com aquele que não passava do candidato da esquerdalha.
Hoje Lula é o ex-presidente que ostenta o título de presidente mais bem sucedido em termos de bons resultados e popularidade, o que é óbvio, pois faz parte do mesmo sistema onde uma coisa leva a outra.
Fernando Henrique Cardoso assistiu no ano passado Lula fazer o que ele não conseguiu: eleger seu sucessor, e está assistindo, em idade avançada, seu partido perdido sem rumo e programa a apresentar para o país, e muito longe da social democracia que o nome carrega.
Sentiu-se na obrigação, que tinha de fato, de iniciar a retomada pela re-construção da oposição, já que o discurso salvador – aquele que Aécio Neves proferiu -, não surtiu o efeito desejado, e por meio de um artigo, iniciou o ataque, com alvo definido: o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores. 
O artigo teve a repercussão desejada, porém, não se sabe se surtiu o efeito político desejado. O que se sabe que Fernando Henrique foi sincero como poucas se viu, e não se incomodou de tornar público as reais estratégias, aquelas que ele considera ideais, ao seu partido e a oposição.
A imprensa simpática à causa do príncipe carente deu ao artigo o patamar político esperado pelo autor, colocando referência sobre o mesmo na capa do jornal. Apesar disto, não se pode negar que o velho príncipe é provido de inteligência.
Fernando Henrique abusou de sua retórica e em um quilométrico artigo, tentou reascender o ímpeto oposicionista que a direita brasileira perdeu depois das eleições de 2010, pois não consegue encontrar um discurso de embate ao discurso aprovado por 87% da população brasileira.
A grande síntese do artigo foi o parágrafo: “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias”.

Neste parágrafo, o velho príncipe procura desabonar a relação estabelecida pelo governo Lula com os movimentos sociais e justificar a incapacidade do seu partido e de sua base em dialogar com o povo, desmerecendo o próprio povo. A humildade falta-lhe de modo exacerbado, culpa o Brasil e não o partido que não consegue criar qualquer bandeira popular, que não tem nenhum negro em suas inserções na televisão, um partido que não retrata o Brasil.
No parágrafo a seguir, o ex-aluno da Sorbonne conclama seus correligionários para reflexão: “Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas a TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe c” ou de nova classe média”.

Nesta análise, o velho príncipe está supondo que a classe ascendente ao nível médio, que conseguiu sua ascensão no governo Lula, está carente ideologicamente e à espera de propaganda política. Um erro histórico, pois a aprovação no final do mandato do ex-presidente Lula mostra que o povo reconhecia os méritos.
Marcando a boiada: “Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.”.

Neste parágrafo, o velho príncipe mostra-se discípulo de Maquiavel e com a frieza habitual, traça o perfil, mostrando onde está a massa de manobra a perseguir. As eleições mostraram que na internet, como nas ruas, não são as empresas que resolvem, mas a militância, e o perfil dos tucanos não é de combatividade. Vale a ressalva que isto nada mais é que uma convocação de guerra na internet.
“Seres humanos não atuam por motivos meramente racionais. Sem a teatralização que leve à emoção, a crítica – moralista ou outra qualquer– cai no vazio. Sem Roberto Jefferson não teria havido mensalão como fato político”.

Chego a dizer que após este parágrafo, o velho príncipe não ganha mais nenhuma eleição, nem para sindico. A frieza com que o mesmo analisa a política, as estratégias, não são de um social democrata, mas de um sujeito totalmente moldado à direita. Ele chama o povo de massa de manobra, e convida seus amigos para uma estratégia fascista.

Em suma, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cometeu suicido político, pois minou qualquer possibilidade dele fomentar uma relação com qualquer movimento social. Para os progressistas, que sirva de atenção, principalmente na internet, onde uma nova estratégia deverá surgir em breve. Complexo de Estocolmo tem cura?

Comentários

  1. Felipe, achei a sua análise muito interessante, por isso colei e repassei para todos de minha lista, citando inclusive o seu blog e o seu nome.
    Parabéns!
    Abraço,
    Maria José

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  2. Maria José, muito obrigado.

    Agradeço pela gentileza.

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