Análise do discurso de Hitler à juventude nazista
Os
ensinamentos de Cícero acerca da retórica foram feitos para que grandes líderes
pudessem utilizar de sua persuasão perante o povo e defender a república, para
que o filósofo pudesse expor seus argumentos com coerência e para que as
discussões no senado romano fossem do mais alto grau de qualidade no que se
refere à busca pela justiça e melhor solução, mas seu consulado e sua oposição
a Julio Cesar e Marco Antonio não tiveram a propaganda como motor da oratória
pensada por Joseph Goebbels que o nazismo alemão teve.
No
recém formado III Reich (1933-1945), o líder do país, Adolf Hitler, mais
precisamente em 1934, na cidade de Hamburgo, discursou à juventude alemã sob
aplausos que davam a imponência necessária para um líder, possuidor também de
uma grande oratória. “Vocês são algo que cerca a Alemanha inteira”, foram umas
das primeiras palavras de um discurso que mostrava aos jovens que eles eram o
futuro desse novo momento que a Alemanha vivia.
O
nazismo tinha como grande força um sentimento de orgulho oriundo da derrota da
vergonha que um povo inteiro foi submetido pelo Tratado de Versalhes, punição
que França e Inglaterra colocaram para a Alemanha, tudo iniciado em 28 de junho
quando o arquiduque da Áustria, Franz Ferdinand foi assassinado por um
separatista na capital da Bósnia, Saravejo, nesse dia, segundo o historiador
inglês Eric Hobsbawn, as luzes da Europa se apagaram para que fossem acesas só
somente no fim da Segunda Guerra Mundial em 1945.
[...] a Primeira Guerra Mundial, que assinalou o colapso da
civilização (ocidental) do século xix. Tratava-se de uma civilização
capitalista na economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa
na imagem de sua classe hegemônica característica; exultante com o avanço da
ciência, do conhecimento e da educação e também com o progresso material e
moral; e profundamente convencida da centralidade da Europa, berço das
revoluções da ciência, das artes, da política e da indústria e cuja economia
prevalecera na maior parte do mundo, que seus soldados haviam conquistado e
subjugado; uma Europa cujas populações (incluindo-se o vasto e crescente fluxo
de emigrantes europeus e seus descentes) haviam crescido até somar um terço da raça
humana; e cujos maiores Estados constituíam o sistema da política mundial. (HOBSBAWN,
p. 16, 2003)
Assim,
podemos observar o choque que foi para o povo alemão, no que se refere ser um
estado criado no século XIX, mas que já demonstrava muita força por ser
resultado de uma união de dois grandes impérios. Toda Europa vivia um momento
positivo, um sentimento de vigor do iluminismo e a Primeira Guerra Mundial
pegou a todos com grande impacto causando diversos sintomas, no caso da
Alemanha, o país derrotado nessa guerra, a seqüela foi maior, pois gerou um
sentimento nacional.
Voltando
ao histórico discurso de Hitler, sua argumentação apontava no sentido de
mostrar aos jovens presentes a grande tarefa que tinham pelo fato de ser o
futuro geracional de um projeto que visava vingar a Alemanha nas palavras
“estão incumbidos de tudo que queremos ser”, isso mostra a importância que o
partido nazista dava para a juventude, pois os presentes ali ouviram “nós
queremos ser um povo e vocês jovens são esse povo”, trabalhar o futuro era uma
grande tarefa do nazismo.
A
união da nação também foi trabalhada quando afirmou que não poderia mais haver
divisões de classe, que os jovens não poderiam permitir que isso crescesse
dentro deles, pois para que um Reich
(império) pudesse ser construído, seria imprescindível a noção de união, nesse
momento Hitler levantou o punho direito para dar mais força e eloqüência ao
discurso.
Obediência
e coragem foram conceitos trabalhados por Hitler no sentido de que a juventude
deveria praticar o primeiro e entender que o ideal era ser pacífico e ter coragem,
defender a paz, mas não ter medo de lutar por aquilo que acreditava ser melhor
para a sua nação. Uma moral militar é colocada, na qual todos devem estar
preparados para suportar privações pela nação.
O
breve discurso foi no sentido de exaltar o nacionalismo que o nazismo precisava
para fortalecer o seu projeto, a Alemanha era maior do qualquer indivíduo mesmo
sendo uma abstração e, assim, todos deveriam ter o sentimento de pertencimento
ao grande projeto.
Podemos
observar que foi algo recorrente no século XX, isto é, o uso do nacionalismo,
um mecanismo que o filósofo alemão Theodor W. Adorno posteriormente denunciou
como um elemento muito comum nas grandes guerras. Trata-se de um elemento
fundamental enquanto ressurreição de um elemento constitutivo dos regimes
totalitários.
[...] Já na Primeira Guerra Mundial os turcos --- o assim
chamado movimento turco jovem dirigido por Enver Pascha e Tallat Pascha ---
mandaram assassinar mais de um milhão de armênios. Importantes quadros
militares e governamentais, embora ao que tudo indica soubessem do ocorrido,
guardaram sigilo estrito. O genocídio tem suas raízes naquela ressurreição do
nacionalismo agressor que vicejou em muitos países a partir do século xx.
(ADORNO, 1995, P. 120)
Por
fim, podemos observar que o nazismo trabalhou em diversas formas para que o
pensamento vigorante pudesse ser coercitivo. A juventude alemã um foi dos alvos
dos calculados discursos de Hitler, pois um regime como o nazista trabalha
valores objetivos e subjetivos para que haja cumplicidade entre o povo e os
homens de gabinete e nada funciona melhor do que o nacionalismo.
BIBLIOGRAFIA
ADORNO, Theodor W.. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1995.
HOBSBAWN,
Eric. Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2003.
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