Resumo: Crítica da Razão Tupiniquim
Colocar-se a
descobrir, ou melhor, a revelar aquilo que há muito tempo se tentava, mas por
mero costume caia sempre em uma trivial historiográfica acerca do pensamento
filosófico no Brasil, assim que o jornalista e escritor Roberto Gomes procurou
em Crítica da Razão Tupiniquim (1977)
abordar aquilo que deveria ser o genuíno pensamento filosófico brasileiro,
aquilo que dentre tantas influências havia sobrado como criação, porém sem
exigência de pureza, desta nação, mas não seria tão simples encontrar, pois
caberia para o Brasil também uma definição enquanto escola filosófica?
Faz parte do
pensamento brasileiro o vício inquietante do pensamento europeu em definir as
coisas postas no mundo, assim como definir o pensamento que define as coisas?
Tudo isso foi tratado de uma forma brasileira, algo que buscou fora da
filosofia formal, àquela que estamos habituamos encontrar na academia, algumas
inquietações que pudessem ajudar a responder a pergunta inaugural: o que seria
uma razão tupiniquim?
Logo no primeiro
parágrafo, Gomes afirma que é “[...] fácil constatar que entre nós esta razão
estará adormecida ou pulverizada em mil manifestações que seria problemático
reunir num único nó com a virtude da síntese” ao falar dessa razão tupiniquim,
e que, a priori não passaria do
título de um livro.
Desta forma, não
tendo a certeza da existência do objeto principal de estudo da obra, atestou
que ou o livro não poderia ser escrito ou se tratava de uma criação daquilo que
queria definir como razão tupiniquim. Algo já fica muito claro que é a fonte de
tal pesquisa, pois não iria se tratar de se embasar somente em livros de
filosofia, mas principalmente na arte.
Partamos de algo
pacífico: mal sabemos o que seja uma razão Tupiniquim. Uma piada, talvez.
Hipótese que nos causaria grande prazer. Gostaríamos muito de piadas. Há todo
um espírito brasileiro que se delicia com a própria agilidade mental, esta
capacidade de ver o avesso das coisas revelado numa palavra, frase fato. Somos,
os brasileiros, muito bem humorados. Conseguimos rir de tudo. Do governo que
cai e do governo que sobe. Das instituições que deveriam estar a nosso serviço,
dos dirigentes que deveriam representar nossos interesses. E não é só. Chegamos
a fazer piadas sobre nossa capacidade de fazer piadas. Nada mais ilustrativo do
que a série de piadas onde representantes de outros países são ridicularizados
pelo desconcertante “jeitinho” de um brasileiro. Neste plano, seja dito, nos
movemos com facilidade gritante. (GOMES, 1983 p. 10)
No entanto, tal
estilo piadístico foi pouco estudado, pouco se refletiu acerca do intento, da
origem e das conseqüências desse estilo dentro da cultural nacional. “Talvez
uma posição existencial nossa”, encontramos no riso, aliás, não é qualquer
riso, o nosso riso, conseguimos satirizar um sofrimento que nos afeta, caçoar
no despotismo que nos impacta e exorcizar as nossas angústias. No entanto, um perigo se apresenta, pois a
mesma piada que salva pode causar uma alienação, pois se não tiver o crivo da
crítica cairá nisso. E dessa falta de criticidade que surge o conformismo
brasileiro. “[...] o brasileiro aliena-se de dois modos: rindo de sua
sem-importância ou delirando em torno do “país do futuro [...]” (GOMES, 1983,
p. 11) e nisso surge uma esperança mágica algo que se expressa na costumeira
afirmação “dá-se um jeito”, com isso o brasileiro foge de sua identidade, sendo
autocomplacente e conformista.
Não se deve
buscar o pensamento brasileiro em nosso conhecimento oficial (teses
universitárias, cursos de graduação e pós-graduação, revistas especializadas,
etc.), pois nada que demonstre uma atitude que assuma o Brasil pode ser
encontrado nesse bojo. Por isso, fica a pergunta: é possível pensar de maneira
séria acerca de uma razão tupiniquim? A
resposta dada por Gomes é que não, no sentido de sério ser o contrário de uma
piada, pois não está na lista de importância de um conhecimento que chamaremos
de oficial, aquele que tem reconhecimento institucional. Outro sentido se sério
se refere ao modo pelo qual uma pessoa sempre respeita as normas e as
convenções sociais.
Assim, surge uma
comparação entre o artista e o filósofo, o segundo somente quando assume a sua
função marginal, são colocados fora da seriedade. O filósofo por vezes e
chamado de louco, em suma, tanto o artista quanto o filósofo não são homens
sérios. No entanto, existe um paradoxo no sentido de sério, pois nada parece
ser levado tão a sério quanto o trabalho de um artista enquanto um homem sério
é ambicioso, calculista, visa lucro, poder e organiza as suas relações sociais
na medida em que pode tirar proveito dessas.
O que isso quer
dizer? “[...] é óbvio que o sério está a serviço de uma máscara social – é uma
persona que assumo. Ou: que me assume. Casca normativa que nos vem do exterior
e que nos dita o que convém, esta a essência de tal seriedade [...]” (GOMES,
1983, p. 83), assim conseguimos entender que a seriedade serve para que uma
máscara seja vestida e isso afeta a filosofia no sentido em que no Brasil não
há filósofo, mas professores de filosofia e tal posição exige certa seriedade
pelo mundo acadêmico.
Após isso, o
próximo tópico a ser analisado no livro será Uma razão que se expressa, terceiro capítulo no qual será analisado
a partir de uma máxima que diz que “sempre que uma razão se expressa, inventa
uma filosofia”, isso deve ao fato do autor entender que os gregos fizeram uma streap-tease cultural e, dessa forma, a
razão grega realizou de si mesma e isso implica em descobrir a sua própria
originalidade, fato que não é preocupação dos pensadores tupiniquins, Nesse
sentido, o autor expressa a sua visão contextualista, pois não há metafísica
que não corresponda a determinado contexto, por isso que os gregos tiveram tal
pujança.
Ao inverso do
comumente suposto, não é a desvinculação do lugar e do tempo que confere
profundidade a um pensamento, como, por exemplo, o de Platão. Seu grande mérito
é ser a expressão realizada no espírito grego. Compreendemos mal o que disse se
quisermos conversar de sua obra aquilo que não se “mistura” [aspas do autor]
impunemente com as atribulações de sua época. A consciência aguda, altamente
diferenciada da “razão” [idem] grega naquele momento, eis a raiz de sua
profundidade e a natureza de sua lição [...] (GOMES, 1983, p. 22)
Isso ganha
relevância na medida em que o é destacado que o vínculo do pensamento com o espaço
e tempo é fator determinante de originalidade e refuta algo que é extremamente
usual na filosofia, principalmente de matriz francesa, que exalta o tempo
lógico em detrimento do tempo histórico e coloca que o “o pensamento é superior
não há despeito de ser situado, mas de situar-se”.
Com isso, Gomes
analisa o hábito brasileiro de apegar-se em demasiado ao pensamento dos outros,
por isso que ao falar de filosofia brasileira, devemos pressupor certo aspecto
que ressalte algo de original e diz que “o novo é apenas um acidente do
original”. O grande ponto para a filosofia ser autentica no Brasil e,
primeiramente, se descobrir no Brasil.
A originalidade
da filosofia consiste em descobrir-se e, determinada posição, assumindo-a
reflexivamente. Além disso: se sua pretensão básica é a verdade, vale lembrar
que esta só faz sentido quando é minha. Mesmo a verdade de um outro só poderá
ser verdade para mim se dela me apropriar, antropofagicamente. E não se poderia
objetar, do ponto de vista de um pensamento rudimentar, que é verdade em si já
se encontrava por lá. Por um motivo simples: verdade em si não faz sentido
algum. (GOMES, 1983, p. 26)
No quarto
capítulo intitulado de Filosofia e Negação, Gomes afirma “a filosofia goza de
um destino trágico: justificar-se” e para fundamentar é feita uma comparação
com a ciência, pois essa valida as suas conclusões, enquanto a filosofia
precisa validar a sua necessidade de existir. Deve-se perguntar sempre se
precisamos de filosofia, mas o autor adverte que não é um mero exercício
acadêmico, mas o excelente jogo de palavras, pois ao responder estará indicando
a sua importância.
O homem sério dá
importância para a filosofia, pois ela lhe fornece erudição, brilho, status,
justificação, ideologia do vigente, mas isso cria uma urgência que é a da
consciência negadora. No Brasil, essa consciência negadora é ocultada.
As questões
decorrentes são as seguintes. Onde, entre nós, esta importância a sério [grifo do autor]? Onde o objeto de nossas
preocupações referido ao que nos rodeia e inventando por ato uma consciência
crítica brasileira? Onde a autenticidade e a cidadania de uma filosofia nossa? (GOMES,
1983, p. 31)
O debate sobre a
utilidade da filosofia é feito no Brasil de maneira que acaba tirando qualquer
importância dela, pois aqui é visto como um conhecimento desinteressado
restando apenas demonstrar os benefícios espirituais da filosofia. Se dermos a
filosofia uma importância séria, também estaremos liquidando com ela, pois isso
a impedirá de criar um mundo. “Visará manter o mundo dado com toda a sua
seriedade” e dessa forma impedirá que duas características importantes como
autenticidade e cidadania sejam perdidas. A história da filosofia é uma
história da negação, na qual discípulos negam seus mestres na busca de
aprimorar os conceitos.
Qualquer
conhecimento inicia sendo negação, ou seja: como essencialmente crítico. O que
não é, está visto, exclusividade da filosofia. Das artes plásticas à ciência,
assistimos à sucessão de intuições criadoras degradando-se em estereótipos até
serem recuperadas por uma nova intuição. (GOMES, 1983, p. 33)
A crítica é uma
posição do espírito que deve ser assumida, pois isso será o meu streap-tease cultural, no entanto, no
Brasil o que vemos é uma atitude oposta chamada pelo ator de “mito da
imparcialidade”, aqui os intelectuais querem estar acima das posições e não
assumi-las e resolvê-las, mas preferem evita-las e dissolvê-las. Muitas
conciliações ocorrem em campos que não Europa seria impensável como idealismo e
realismo, subjetivismo e objetivismo, positivismo e marxismo, isso poderia ser
virtuoso, mas para Gomes demonstra um aspecto medíocre da intelectualidade
brasileira.
O Brasil não é
só o paraíso do futebol, mas também do ecletismo. “A corrente eclética
representa o primeiro movimento filosófico estruturado no Brasil [...]” (GOMES
apud PAIM, 1983, p. 35), sendo esse pensamento o constitutivo da elite desse
período, pois era uma anulação de qualquer contraposição de ideias, de qualquer
potência de querela que, assim, se abrandava para enobrecer os assuntos e
resultou na conciliação no plano político durante o Segundo Reinado. Com isso, fundou-se uma ideologia da
conciliação.
Me parece que o
ecletismo não foi entre-nós apenas um movimento, o primeiro a se estruturar, ou
o simples reflexo de uma determinada situação política e social. Produto direto
da indiferenciação intelectual brasileira, que por sua vez é produto da
dependência cultural que até hoje perdura, creio que no ecletismo tenhamos
revelado muito mais do que normalmente se supõe. É manifestação de alguns
traços básicos de nosso caráter intelectual e de nossa condição política [...]
(GOMES, 1983 p. 36)
Existe um
ufanismo no Brasil que privilegia um objeto: o jeito, tal objeto é muito
utilizado pela classe política, mas também se aplica ao contexto metafísico por
aqui. O jeito acaba respeitado por demasiado a formalidade em detrimento de
valores que possam acarretar em uma revolução ou qualquer mudança branda. Se
deixa estar como fica para ver como se dará até o fim, nada se muda, a espera é
colocada. Não se trata de nada especulativa, mas sim de uma alienação das
elites políticas e intelectuais.
Essa alienação
impactou na importação de modelos econômicos, educacionais políticos não
adequados à realidade local, as elites colocam seus interesses de maneira
totalmente dissonante do povo em geral que não consegue atender ao que somos e
ao que viemos a ser. Surge um novo fanatismo, o da concórdia, o mesmo que não
aceita o choque de ideias.
Esta a expressão
máxima de nosso pretenso espírito eclético e conciliador: o fanatismo do mesmo.
Os grupos são lugares de privilégio das elites na partilha do poder. Nesta
prisão primária que é o grupo fanatizado, a visão mágica emerge. Divergir é
crime. Discordar é subversão. Perguntar já é um ato de desobediência. (GOMES, 1983 p. 47)
O sétimo
capítulo irá abordar a originalidade e o jeito, o segundo como promotor de uma
atitude de tolerância e abertura intelectual, expressão da razão conciliadora,
um potencial despótico e conservador. Ao contrário, o mesmo homem que realiza
uma conciliação, odeia seus opositores, denominado pelo autor como uma coisa
estranha. Estranho também é a ocorrência dos variados modismos no Brasil, pois
a “nossa razão” saltita de galho em galho e basta a leitura de um livro de um
autor estrangeiro para que se tenha uma boa resposta. É uma razão alienada que
ou concilia ou suprime, abandona o real, pois a razão conciliadora lida com
razões anteriormente dadas do real e não com o real enquanto tal.
Na filosofia, no
Brasil se mistura ideologias, aquilo que Roberto Gomes chama de razão
ornamental na qual importam as versões, não os fatos. Não se assume posições
diante dos fatos, é uma paixão pela mesmice que vem da falta de reflexão sobre
nós. “Ora, filosofar é dar-se conta da filosofia”, exercício que obriga assumir
os riscos seguintes a tal ação, não a tomando como óbvio, mas sim como filha da
tragédia, pois se for tomada como óbvio será arquivada em qualquer repartição.
Tomá-la como prévia também tira qualquer conotação de novidade.
Não se pode
negar que há filosofia no Brasil, pois ela se encontra naquilo que, segundo
Gomes, sempre será um entre-nós. No entanto, “[...] só contamos com documentos
a respeito, documentos com data marcada, como encontramos revistas e livros que
versam sobre seus temas.” (GOMES, 1983, p. 55). Isso significa que ela é
fomentada somente em ambiente acadêmico, por isso fica tão distante da população,
assim também fica de modo geral distante, pois estudamos tudo que é de fora,
nunca damos privilégio para o que pode ter sido criado aqui. “[...] cumprindo
seu destino e sua vocação, o pensamento brasileiro, mais que criativo é
assimilativo das ideais alheias, e, ao invés de abrir rumos novos, limita-se a
assimilar e incorporar o que vem de fora” (GOMES apud Luís Washington Vita,
1983, p. 55).
O autor
reivindica uma reflexão mais profunda acerca do tema, algo que possa vencer as
falsificações históricas, existenciais e de linguagem, pois somente ao
libertamos disso estaremos exercendo uma filosofia aqui para aqui e com pessoas
daqui, alguns já disseram que não é do espírito brasileiro o filosofar
normalmente justificado em dois argumentos, o primeiro que afirma que o
brasileiro não seja capaz de filosofar e que a língua portuguesa não é o
terreno adequado para tal. Quando se é questionado sobre qual foi a herança
filosófica que Portugal deixou, pode-se afirmar que não foi uma das mais ricas,
no entanto, não se herda filosofia, mas se apropria dela e se faz ela de modo
autônomo, ou seja, não se deve buscar no passado uma justificação para tal
fato.
[...] Como o
português não traduz uma expressão de Hegel, Kant ou Aristóteles – mais
recentemente ao delírio Heidegger – o português será a língua inferior quanto
às possibilidades de filosofar. Ocorre aí um imenso equívoco: o de que o único
filosofar possível consista em ser ‘assimilativo” e ter “sensibilidade
espiritual” para com os problemas dos outros. Esquecemos a situação dos outros
é isto: deles. Se nossa língua não é capaz de exprimir o alheio, isso em nada a
desmerece, uma vez que uma língua tem por função de exprimir o próprio e não o
alheio. (GOMES, 1983p. 65)
Entramos assim,
já no nono capítulo em algo extremamente importante que é a Razão Ornamentalque é caracterizada pela
supressão da intencionalidade, no mais clássico sentido fenomenológico, pois os
objetos passam a ficar esquecidos, deixam de ser importantes; alguns fatos no
Brasil colaboraram para o surgimento dessa razão que é, em primeiro, a posição
de colonizado que não irá se esgotar em mera dependência econômica, mas sim em
todas as áreas. O segundo é o fato de ser culto no Brasil resultar em avolumar
erudição sobre o outro, sempre o não-brasileiro, o terceiro é esquecer tudo que
está a volta e olhar totalmente para fora.
A Razão
Ornamental nos leva a abandonar tudo, esquecer aqui e fora daqui obras que
importam, para correr atrás das últimas novidades. Nos conduz a querer aplicar
aqui “escolas” estrangeiras – portanto estranhas – como se isso fosse possível
sem nos cobrar um preço: o esquecimento do que somos. (GOMES, 1983 p. 73)
Outro conceito
importante é o de Razão Afirmativa
que é a que diz sim, sempre. Trata-se de um triunfo do positivismo como elogio
ao vigente, pois assim entre nós optou-se pela certeza, impossibilitando uma
filosofia brasileira genuína, pois não se fez possível, deixando o pensamento
brasileiro anestésico e esterilizado.
Podemos agora
equacionar a questão de um pensamento brasileiro. A filosofia representa, por
si só, um desafio a nossas instalações, uma exigência de questionamento
radical. Por outro lado, por comodismo, ligação incestuosa e pela violência do
projeto colonizador, sempre delegamos à Europa nos dizer o que deveríamos
pensar. Deste irreconhecível choque – quanto a isso não há como dar um jeito –
resultou a impossibilidade de uma filosofia brasileira. (GOMES, 1983 p. 98)
Um outro
problema é o fato do Brasil ter sido ocupado no início por pessoas que nunca
quiseram permanecer por aqui, por isso que pouco houve de sentimento
nacionalista pelas terras tupiniquins, nem é preciso comparar com os EUA, basta
fazê-lo com as nações da América Espanhola, o esquema era enriquecer depressa e
voltar logo, os que vieram mantiveram relações com Portugal.
A sociologia
local abordou tão fenômeno como “cultura da dependência”, nunca saímos debaixo
da saia da Europa, pois mesmo com a nova dependência aos EUA, vemos a
reprodução de uma antiga relação com uma espécie de centro do mundo. Por isso,
temos aqui uma grande subordinação aquilo que se entende como razão
euro-ocidental, a mesma que transformou a sociedade europeia em uma civilização
metafísica.
O que impede o
surgir de um pensar nosso é a recusa implícita de enfrentarmos algo brasileiro.
Se os modelos de ver que assimilamos são os de um outro, não nos vemos a não
ser de modo distorcido e sem chegarmos a nos assumir teórica e praticamente.
Nossos temas são recusados por não serem de odor tão refinado quanto as
questões europeias. Nosso modo específico de abordar o real, tornando-o
importante é esquecido. O mesmo se dá com os problemas que deveríamos
efetivamente problematizar, pois não poderiam ser objeto de uma filosofia esterilizada
sem contaminá-la, obrigando-a a assumir seu papel histórico entre-nós.
Contaminada, esta filosofia viria a ser muito incômoda, já não permitindo a
infindável conciliação. O que não é recomendável, quer o ponto de vista do
vigente – o vigente entre-nós é a dependência – quer do ponto de vista das
instalações que providenciamos para nos proporcionar certeza. (GOMES, 1983 p.
105)
Desta forma,
podemos perceber que Roberto Gomes coloca qualquer tentativa de filosofia
brasileira como inautêntica, proclamando assim o reino da Razão Ornamental por aqui e mostrando que na arte podemos encontrar
muito mais filosofia do que em qualquer produção acadêmica em nível nacional.
Essa Razão Tupiniquimé aquilo que entre-nós é a dependência e por isso a
originalidade sempre estará prejudicada.
GOMES, Roberto. Crítica da Razão Tupiniquim. 6. ed. São Paulo: Cortez
Editora, 1983.
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