Crítica da obra Macunaíma

“Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos", disse um dos meus “reaças” favoritos, Nelson Rodrigues. Leio muitos livros, mas também releio muitas obras, tudo depende do assunto estudado no momento. Nada muito consciente, muitas vezes acontece por instinto, onde a mente sugere a obra. Em tempos recentes, decidi reler o clássico Macunaíma, lançado em 1928, do autor modernista paulista Mário de Andrade.


Às margens do rio Uraricoeira, na Floresta Amazônica, nasceu Macunaíma, o herói de nossa gente. O Imperador do Mato é a síntese do espírito genuinamente brasileiro, sendo egoísta, safado, preguiçoso, inteligente – capaz de exercer persuasão a todos que estão a sua volta, era descrito pelo autor como portador de uma ingenuidade oriunda das terras tupiniquins.
Mário de Andrade afirmou que não quis criar um documento para consulta sobre o folclore brasileiro, pois misturou diversos “causos” de nossa gente, e na obra empregou uma linguagem simples, sonorizada, portadora de uma cadência musical, escrevendo uma rapsódia popular, não um livro de história.
Escrita em seis dias, em Araraquara, a obra foi bem aceita por parte da crítica, sendo que alguns outros setores questionavam a autenticidade do herói, acusando que se tratava de uma imitação da obra do alemão Koch-Grunberg, fato este, assumido pelo autor, que, como todo bom “antropofagista”, engoliu muitas linhas de muitas obras para vomitar o herói.
Fazendo releituras de crendices de quase todos os cantos do Brasil, a obra coloca o índio, brasileiro nativo, como representante da cultura de nossa terra, que encontra em seu adversário, o gigante Piaimã, de nome Venceslau Pietro Pietra, seu antagônico, o estrangeiro – comedor de gente.
A batalha entre o brasileiro genuíno e o estrangeiro é o grande enfoque desta rapsódia, que somente no final do texto tem seu desdobramento.
Com certeza é uma das maiores obras de nossa literatura, que proporciona uma leitura muito rápida, pois como já dito, possuí uma cadência musical. Lançada seis anos depois da Semana de Arte Moderna de São Paulo, a obra expressa todo o espírito modernista que havia dominado certos autores, principalmente os paulistas, especialmente os amigos Osvald e Mário de Andrade.

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