Análise: Ser Jornalista de Ciro Marcondes Filho
Uma profunda e robusta análise marxista sobre a comunicação com uma meticulosidade histórica digna de um bom jornalista e marxista, a obra Ser Jornalista, lançada em 2009, do sociólogo e jornalista Ciro Marcondes Filho, com certeza não é indicada pela maioria dos cursos de jornalismo do ensino privado.
A obra não é indicada em universidades privadas porque analisa aguçadamente o processo de comunicação no mundo e no Brasil, a luta de classes dentro da comunicação e como o mercado de trabalho influencia a imprensa, como a imprensa porta-se no período da ditadura do capital, e como o emprego é usado pelos jornais-empresas para que o jornalista abdique de sua ideologia.
Em Ser Jornalista, Marcondes Filho acaba com a poética ilusória do jornalismo chamando a imprensa de ferramenta-mor da luta pela hegemonia do pensamento social, trazendo à tona o fato de que a imprensa foi a ferramenta que a burguesia usou para derrubar a aristocracia, e que hoje a atual burguesia usa para sustentar sua hegemonia.
De forma enfática, o texto de Marcondes Filho mostra como a notícia virou mero adereço na imprensa formal, dando à publicidade o espaço principal na estrutura do jornal, hoje o fato é o convite para que o leitor leia a publicidade. Alguns capricham no convite, outros preferem não esconder o foco e colocam a publicidade in loco sem qualquer inibição.
O alemão Karl Kraus (1874-1936) é muito citado no primeiro capítulo por ser o pioneiro na crítica a imprensa fundamentada, o mesmo dizia que o jornalista pode ser comparado à prostituta, pois ao escrever seguindo a linha editorial do jornal está vendendo a consciência que tem.
Kraus dizia que o jornalismo é o oposto da literatura, pois os grandes autores faziam de seus romances verdadeiras extensões de seus espíritos, diferente dos jornalistas que não se apegavam em nenhum valor humano para escrever, apenas o faziam para vender e persuadir. A maior crítica do alemão era quanto à alienação da imprensa - causada por sua falta de ideologia -, pois esta causava à população outra alienação.
A obra não está somente focada na explanação histórica do jornalismo, mas também aborda sobre algumas premissas consideradas essenciais pelo autor para o jornalista, a principal delas refere-se ao texto, pois de acordo com Marcondes Filho – um bom texto depende de uma boa cabeça -, ou seja: para escrever bem tem de ter boas idéias e saber organizá-las.
Na crítica feita ao curso de jornalismo oferecido pelas universidades, principalmente do ensino privado, o autor aborda o foco das instituições, que preferem formar um produto para o mercado a um jornalista que possa desenvolver uma visão crítica e ter fundamentação para analisar o mundo de uma maneira profunda.
Trata-se de uma excelente obra que proporciona uma leitura entusiasmante, porém, devido à meticulosidade utilizada pelo autor, são exigidas uma forte dedicação e maturidade de compreensão textual para a compreensão ideal da mensagem proposta.
Adorei o que você escreveu sobre o livro, é sem dúvida um bom livro >.<
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