Análise conjuntural da blogosfera progressista


                           A blogosfera progressista tem de ser progressista

Se estivéssemos em uma guerra da comunicação (e acredito que estamos), com certeza a ala vermelha estaria encabeçada pelos blogueiros progressistas, que se organizaram e hoje é o principal reduto daqueles que apontam um caminho de democratização da comunicação mais tangível, mostrando que a internet é a terra dos “jedis” na luta contra os “siths” da velha mídia.
O ponto de análise deste artigo não é a blogosfera, mas sim o conceito do termo “progressista”, o que é sê-lo? Lembremos que o partido de Paulo Salim Maluf (o filhotinho da ditadura) chama-se Partido Progressista (PP). Um forasteiro em terras tupiniquins perguntaria se os blogueiros progressistas são militantes do PP que usam um blogue como ferramenta para o avanço. Para aqueles que conhecem o espectro político brasileiro, isto é uma blasfêmia. Mas se trata de uma das contradições do nosso cenário político.
Na filosofia, o pensamento progressista está ligado ao pensamento positivista, e o positivismo descarta qualquer idéia não fundamentada cientificamente, ou seja: ser progressista é ser fundamentado. Para derrubar o conservadorismo é necessário derrubar a estrutura do arcabouço que sustenta as idéias defendidas pela elite que não quer que ocorram mudanças que possam abalar seu status quo. Deste modo, é esperada de qualquer progressista, a necessária fundamentação na defesa de suas teses.
O materialismo dialético de Marx postula que qualquer corrente de pensamento corresponde às leis da realidade. A matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética marxista: a realidade é contraditória com o pensamento dialético. "A dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente idênticas, como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta." (Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192)
Analisar qualquer fenômeno através do materialismo dialético é esmiuçar em todos os aspectos, os mesológicos e históricos, pois o anacronismo é o erro mais grave em qualquer análise.
Deste modo, é compreensível que o blogueiro progressista é aquele que está ao lado das correntes políticas progressistas, e que procura ter embasamento para defender suas teses. Analisar um fato pelo viés progressista é estripá-lo.
No entanto, alguns blogueiros progressistas, que administram alguns dos blogs mais visitados, não se portam deste modo. Analisando pelo governo Dilma, em quatro discussões determinantes, como: a discussão do ajuste do salário mínimo, a festa de 90 anos do Jornal Folha de São Paulo, recentes decisões de política externa e o debate em torno do código florestal, foi possível perceber análises rasas de alguns membros da blogosfera.
Poucos prestaram atenção nos reforços de figuras do conservadorismo brasileiro em torno de suas análises nestes temas, sendo estas também conservadoras, para elucidar vou destacar a presença da presidenta na festa do jornal paulista, onde alguns quiseram condená-la por se portar de forma institucional em um evento onde ela deveria se portar daquela forma, pois independente de seu espectro político, Dilma Vana Roussef é presidente de 194 milhões de brasileiros.
Trabalhar para ter menos contendas com a imprensa – diferentemente do governo Lula -, é o avanço necessário, fazer com que esta perca seu poder de influência também o é. Lula tinha um acerto de contas a fazer com os grandes conglomerados midiáticos, Dilma não, ademais a primeira mulher presidente não goza do carisma do primeiro operário presidente.
Outro fato que deve ser analisado é a discussão feita em torno do relatório do Deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sobre a mudança do Código Florestal. Poucos mostraram conhecer a história da luta da esquerda neste país, pois somente alguns – como este que vos escreve -, analisaram a partir da biografia do autor, sabendo que o mesmo representa o pensamento genuinamente progressista.
Na maior parte das análises feitas pela blogosfera sobre o relatório, não vi citações do texto, onde muitos sequer leram o relatório, e colocaram a organização mundial Greenpeace como baluarte da luta pela preservação do mundo, esquecendo que a mesma não faz campanhas semelhantes em países ricos.
A defesa do relator é que hoje os pequenos produtores rurais são miseráveis, lembrando que a CONTAG (Conferência dos Trabalhadores da Agricultura) apoiou a mudança do código, e vi poucos contrapontos fundamentados a este fato. Aldo não defendeu o desmatamento, em minha opinião, o mesmo defendeu a adequação de uma lei feita em 1965 para os dias atuais, e após quase dois anos de trabalho, e mais de 100 audiências públicas, entregou um texto que no mínimo traz a necessária reflexão sobre a conjuntura da agricultura e do código florestal atual.
Hoje, para alguns progressistas do Brasil, ser ruralista é ser explorador, porém, pelo verbete do filólogo Evanildo Bechara, ruralista nada mais é que aquele que é produtor rural ou defende os interesses do ruralismo, não fornecendo informações sobre a proporção de terra que um ruralista deve ter, sendo assim: os pequenos produtores são ruralistas, então, o ruralismo não é reduto dos grandes produtores somente. Entendo que alguns possam discordar de certos conceitos defendidos pelo relator, mas com embasamento tudo fica mais claro.
 Em suma, as análises rasas de alguns blogueiros progressistas os tornam não progressistas, e sim somente blogueiros. Neste ano, diversos encontros estaduais já aconteceram e muitos outros vão acontecer, assim como II Encontro Nacional, e acredito que é o momento de fazer a autocrítica, pois para enfrentar os grandes conglomerados se faz necessária a qualidade em análises profundas, próximas da realidade do nosso povo. Somente assim a blogosfera conseguirá enfraquecer a grande mídia, dando musculatura para a luta pela democratização da informação.

Comentários

  1. Discordo quando você critica as apreciações dos blogueiros contra a presença da Dilma no evento da Folha. Na qualidade de presidenta do Brasil, Dilma não tinha nenhuma obrigação, sendo, inclusive, inadequada, sua presença num evento de um grande oligopólio da informação. Do ponto de vista institucional, foi péssimo.

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  2. Karina, se ela não tivesse ido, teria declarado guerra a um adversário inescrupuloso.
    Em minha opinião, foi tática de guerra. Ademais, é um importante grupo (apesar do viés liberal) de comunicação, e por este motivo, considerei relevante. Ela foi por se tratar do maior jornal impresso do páís, isso não quer dizer que a presidenta concorde com a linha editorial do mesmo.

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  3. Muito boa a sua análise, Felipe. Concordo plenamente.

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