Grande Sertão Veredas: uma obra imperdível
Somos antropófagos por natureza, como disse Oswald de Andrade, e podemos, com este atributo, produzir obras ímpares que ostentam peculiaridades de todos e ao mesmo tempo somente nossas. Uma loucura só entendida em nosso continente, pois nem todos têm o “swing” que temos.
A literatura é o terreno mais fértil para que idéias cozinhadas em culturas diversas aflorem para uma cultura específica, incorporando todos os adereços temáticos a esta, parecendo que sempre pertenceram àquele determinado contexto.
Neste sentido, muitos elegeram a celebre obra “Grande Sertão Veredas’ do escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) como a mais completa da literatura brasileira, tal afirmação goza da minha concordância, pois é a obra que usa das principais ferramentas literárias para descrever o cotidiano da “jagunçagem” da zona da mata, ou Vale do Jequitinhonha e suas veredas das Gerais, como muitas vezes é citado na obra.
João Guimarães Rosa era um poliglota fantástico, e um exímio conhecedor da língua portuguesa. Com toda a sua habilidade de romancista e frasista – criou uma linguagem única para Grande Sertão Veredas, usando palavras que ao ler parecem tão usuais, mas só estão nas linhas da obra do escritor mineiro.
O enredo aborda um romance supostamente homo afetivo, entre Riobaldo e Diadorim - que se chamava Reinaldo – ou Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins. O foco narrativo é em primeira pessoa, cujo Riobaldo ao longo da meticulosa descrição da qual fazia de sua vida de jagunço a um conhecido, mostrava sua aversão aos sentimentos diferentes que tinha pelo melhor amigo.
O clímax está reservado para o final, pois ocorrem revelações que dão sentido aos mais diversos sentimentos descritos por Riobaldo. A leitura é fantástica, fluindo naturalmente, porém, com um leve cansaço no início, pois a descrição acaba se tornando cansativa. Assim que os amigos entram em sua aventura e vida de jagunços, a leitura flui muito bem.
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