A consequência do discurso de Mujica
Em recente discurso proferido na ONU, o
presidente do Uruguai, Pepe Mujica, criticou o “deus mercado”
abordando suas influências na busca de felicidade dos indíviduos da
sociedade atual. Isto aplica-se à quase 90% das sociedades atuais,
com poucas excessões de indígenas e outras etnias pelo mundo que
seguem outra lógica de organização que fogem da influência do
capitalismo.
Isto está cada dia mais raro, pois o
capitalismo, com suas formas de dominação através do mercado, das
mídias e da indústria cultural, está tentando atingir a totalidade
da forma humana de organização. Porém, as várias formas de crise
que surgem e as fraturas que as mesmas vêm causando é a prova que a
leitura hegeliana de Fukuyama está errada, a história não acabou e
está nos primeiros capítulos ainda.
Francis Fukuyama está longe de ser um
inocente neste processo. Braço de Reagan, enquanto este foi
presidente dos Estados Unidos, o nipo-estadunidense é um grande nome
do neoconservadorismo criado pelo neo-liberalismo. Sua tese é falha,
pois o mesmo não passa de uma caricatura da tentativa do capitalismo
em dar a última resposta certeira para uma crise que parece não ter
mais fim, ou seja, mais um passo da história, que está longe de
acabar.
Segundo Hegel, a história caminha
pelas contradições e enfrentamentos que existem na sociedade, ou
melhor adaptado por Marx “pela luta de classes”, e só teria seu
fim quando o equilíbrio fosse alcançado. Pra Marx, quando o
“comunismo” fosse obtido. Sequer estamos certos que já chegamos
na transição, ou seja: decretar o fim da história é uma
desonestidade intelectual.
Vemos ainda o processo de apropriação
muito forte praticado pelas entidades baluartes do capitalismo
mundial. Recentemente, o Brasil teve um dos maiores processos de
mobilizações populares, bastante complexo, mas de grandeza
inquestionável. O que pode ser visto agora é a Coca-Cola e outras
marcas usando tais imagens como ferramenta de marketing de sua
propaganda. Que no caso do refrigerante oferece a liberdade juvenil.
Mas, e nossos enfrentamentos práticos
ao capitalismo, como estão ocorrendo? Existem diversas formas,
micro-físicas e macro-físicas, cada uma cumprindo um papel. Assim,
quais são as sequelas que a esquerda carrega por estar dentro da
democracia burguesa? Quais são as fissuras causadas pelo pragmatismo
eleitoral?
Em sua obra O Povo Brasileiro (1995), o
antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro aponta os diversos tipos de poder que
podem ocorrer nas mais diversas classes. “Nossa topologia das
classes sociais vê na cúpula dois corpos conflitantes, mas
mutuamente complementares. O patronato de empresários, cujo poder
vem da riqueza, através da exploração econômica; e o patriarcado,
cujo mando decorre do desempenho de cargos, tal como o general, o
deputado, o bispo, o líder sindical e tantíssimos outros...” (p.
191).
Ou seja, Pepe Mujica foi eleito
presidente pela democracia burguesa e governa um país capitalista,
mas tem de tomar ações que afastem seu povo da dominação deste
sistema que criticou. Com isto, procura se afastar dos louros que o
poder traz, do possível brilho que a presidência acarreta. Mas
todos na esqueda fazem isto?
As sub-classes quando chegam ao poder
têm maior facilidade em prestar homenagens às classes dominantes,
por isto o pragmatismo eleitoral tem que ser analisado mais uma vez
neste ano de congressos dos partidos de esquerda. Quando figuras de
esquerda chegam ao poder, a quem estas estão homenageando? O
discurso de Mujica me fez pensar sobre este assunto.
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